Dias
antes de deixar o governo, o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero gravou
conversas com o presidente Michel Temer, com o ministro da Secretaria de
Governo, Geddel Vieira Lima, e com o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Para que
as gravações sejam periciadas e analisadas pela Polícia Federal (PF) é preciso
que o Supremo Tribunal Federal (STF) autorize a abertura de investigação.
No
depoimento à PF, Calero narrou ter recebido pressão de vários ministros para
que convencesse o Iphan a voltar atrás na decisão de barrar o empreendimento La
Vue, onde Geddel diz ter adquirido um apartamento, nos arredores de uma área
tombada de Salvador.
Em 6 de
novembro, Calero afirmou ter recebido “a mais contundente das ligações” de
Geddel. No telefonema, o ministro da Secretaria de Governo deixou claro “que
não gostaria de ser surpreendido com qualquer decisão que pudesse contrariar
seus interesses”.
Na versão
do ex-ministro da Cultura, Geddel disse, “de maneira muito arrogante”, que, se
fosse preciso, “pediria a cabeça” da presidente do Iphan, Katia Bogéa, e
falaria até mesmo com Temer.
Calero
contou à PF que tanto Padilha quanto Temer insistiram para que ele levasse o
processo sobre o prédio à Advocacia-Geral da União. Relatou ainda sua
contrariedade com as pressões e desabafou com Nara de Deus, chefe de gabinete
de Temer, que teria ficado “estupefata”.
Segundo
Calero, a decisão de deixar o governo veio depois da conversa com Temer e
quando o secretário de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo Rocha,
telefonou para ele demonstrando a “insistência do presidente” em fazer com que
ele interferisse “indevidamente” no processo, enviando os autos para a AGU.
IMPEACHMENT
O PSOL
(Partido Socialismo e Liberdade) anunciou nesta sexta-feira (25) que vai
protocolar na próxima segunda (28), na Câmara dos Deputados, um pedido de
impeachment contra o presidente Michel Temer
A legenda
argumenta que Temer cometeu crime de responsabilidade ao pressionar o
ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, em favor de interesses pessoais de
Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo que pediu demissão
nesta sexta-feira.
“Agora
sim estamos diante de um crime de responsabilidade”, afirmou em nota o líder do
PSOL na Câmara, Ivan Valente.
CRISE
Após a
divulgação do depoimento de Calero, a situação ganhou contornos de crise no
governo. Por meio de seu porta-voz, Alexandre Parola, Temer admitiu ter
conversado com o ex-ministro da Cultura, mas rechaçou qualquer irregularidade.
Apesar disso, a manutenção de Geddel no cargo tornou-se insustentável.
Além do
PSOL, outros partidos da oposição já haviam cogitado a possibilidade de pedir
impeachment de Temer após as denúncias de Calero, entre eles o PT e a Rede.
