O
plenário do Senado aprovou nesta terça-feira (29), em primeiro turno, por 61
votos a 14, o texto-base da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55, que
estabelece um limite para os gastos públicos pelos próximos 20 anos.
Para
concluir a votação, os senadores ainda precisam analisar três destaques
(sugestões de alteração ao texto).
Por
se tratar de uma proposta de mudança na Constituição, a proposta precisava ser
aprovada por pelo menos três quintos dos parlamentares (49 dos 81). Concluída a
análise em primeiro turno, a PEC deverá ser analisada em segundo turno –
previsto para 13 de dezembro – no qual também precisará do apoio de, ao menos,
49 senadores.
Enviada
pelo governo ao Congresso Nacional no primeiro semestre deste ano, a proposta é
considerada pela equipe econômica do presidente Michel Temer como principal
mecanismo para o reequilíbrio das contas públicas.
Durante
a sessão desta terça, a medida foi criticada por senadores que fazem oposição
ao Palácio do Planalto. Os oposicionistas chamaram o texto de “PEC da maldade”
porque, na visão deles, a proposta vai “congelar” os investimentos em saúde e
educação.
Inicialmente,
somente os líderes partidários encaminhariam os votos, mas o presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deixou que todos os senadores inscritos
pudessem discursar na fase de encaminhamento.
Embora
tenha sido aprovada por 61 votos a 14, a PEC recebeu menos votos que o previsto
pelo líder do governo no Congresso, Romero Jucá (PMDB-RR), que previa até 65
votos favoráveis à proposta.
Regras
A proposta estabelece que, nas próximas duas décadas, as despesas da União (Executivo,
Legislativo e Judiciário e seus órgãos) só poderão crescer conforme a inflação
do ano anterior.
Já
para o ano de 2017, o texto institui que o teto de gastos corresponderá à
despesa primária – que não leva em consideração os juros da dívida pública –,
corrigida em 7,2%.
Nos
demais anos de vigência da medida, o teto corresponderá ao limite do ano
anterior corrigido pela inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA).
Pelo
texto da PEC, se um poder ou órgão desrespeitar o limite de gastos sofrerá, no
ano seguinte, algumas sanções, como ficar proibido de fazer concursos ou
conceder reajustes.
O
texto permite, por exemplo, que um poder extrapole o teto. No entanto, nessa
hipótese, será necessária a compensação do gasto excedente por outro poder.
Inicialmente,
os investimentos em saúde e em educação entrariam no teto já em 2017, mas,
diante da repercussão negativa da medida e da pressão de parlamentares da base,
o governo concordou que essas duas áreas só se enquadrarão nas regras a partir
de 2018.
Ficam
de fora do alcance da proposta as transferências constitucionais a estados e
municípios, além do Distrito Federal, os créditos extraordinários, as
complementações do Fundeb, gastos da Justiça Eleitoral com eleições, e as
despesas de capitalização de estatais não dependentes.
A
PEC permite que, a partir do décimo ano de vigência do teto, o presidente da
República poderá enviar um projeto de lei para mudar a forma de correção do
limite.
Tentativas de mudanças
Contrários ao texto, senadores da oposição apresentaram emendas (sugestões de
alteração) à proposta para que a população seja consultada para a PEC passar a
valer. Eles também querem que o pagamento dos juros da dívida pública também
sejam incluídos no teto.
No
entanto, em menor número, a oposição deve ter dificuldades para promover
mudanças na proposta.
A
oposição também quer retirar do limite os investimentos em saúde e em educação.
Governistas
pretendem derrubar quaisquer tentativas de alterações ao texto, pois eventuais
modificações fariam a PEC ser reexaminada pela Câmara. O Planalto quer o texto
promulgado pelo Congresso ainda neste ano.
Lados opostos
Relator da proposta, o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), defende
em seu parecer que, sem a imposição do teto, a dívida da União entrará em uma
trajetória insustentável.
“O
resultado final [sem o limite de despesas] é uma forte aceleração da inflação
ou moratória, com consequências sobre o crescimento e a economia”, diz.
A
senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), por sua vez, critica a previsão de a
proposta vigorar por 20 anos. “É um arrocho por muito tempo”, argumenta.
Sessão tumultuada
Antes do início da análise da PEC, Renan Calheiros suspendeu a sessão por cinco
minutos para que dois manifestantes fossem retirados do plenário.
Aos
gritos, Gláucia Moreli, que disse ser presidente da Confederação das Mulheres
do Brasil, protestou contra o texto.
Ela
foi retirada por seguranças, mas recebeu apoio de parlamentares petistas, como
Lindbergh Farias (RJ), Regina Sousa (PI) e Paulo Paim (RS).
“Nós
queremos as verbas da saúde, da educação, o orçamento da União ano passado foi
destinado a banqueiros e só 5% para a saúde. Como vai ficar quem precisa de
saúde e educação públicas? Ainda mais agora com 13 milhões de desempregados”,
disse Gláucia a jornalistas após ser retirada do plenário.
Do
lado de fora, manifestantes contrários à PEC entraram em confronto com a
Polícia Militar. Enquanto isso, Eunício Oliveira (PMDB-CE), relator da
proposta, lia seu parecer favorável à aprovação do texto.
Ao
longo da sessão, vários senadores da oposição pediram a Renan que liberasse o
acesso às galerias do Senado. Eles queriam que representantes de movimentos
sociais pudessem acompanhar a votação.
No
entanto, Renan manteve as galerias fechadas ao público, alegando que a presença
dos manifestantes poderia provocar tumultos no plenário.